A microtendência da vez é o cansaço
Se você nunca ouviu falar da estética coastal grandmother, das blueberry milk nails, do mob wife aesthetic ou de qualquer uma das milhares de microtendências que brotam e desaparecem nas redes com a velocidade de um clique, considere-se sortuda.
Mas mesmo que não saiba os nomes, é bem provável que já tenha sentido os efeitos.
Essas microtendências têm sido associadas à Geração Z — e, de fato, muitas nascem ali, nas entranhas do TikTok e do Pinterest —, mas o que está em jogo vai muito além da idade. Estamos vivendo uma nova dinâmica de consumo estético que, sim, impacta diretamente a forma como nos vestimos. E, por consequência, o nosso trabalho como profissionais de estilo.
Esse foi, aliás, um dos temas da última aula sobre tendências de comportamento da comunidade Stylebreakers. Tenho estudado e debatido bastante com as minhas alunas, porque não dá mais para pensar consultoria de estilo sem encarar o ecossistema estético e digital em que a gente vive.
Estamos num momento em que o vestir deixou de ser um processo de construção para virar um reflexo da velocidade.
E é justamente aí que mora o problema.
O cansaço é coletivo
A cada semana, uma nova “estética da vez”: tomato girl, balletcore, clean girl, vanilla girl, office siren, eclectic grandpa, blokette — e por aí vai. São tantas categorias, estilos, rótulos e “identidades visuais” que chega uma hora em que ninguém sabe mais o que é, o que quer ser, ou o que pode vestir.
É a estética como performance exaustiva.
E ninguém está imune.
Duas matérias recentes do New York Times mostraram que, para os jovens — especialmente da Geração Z —, o sentimento mais comum não é o desejo de seguir uma tendência específica, mas a angústia de precisar seguir todas. Ou, pior: o medo constante de já ter perdido a onda, de estar atrasada, de não conseguir acompanhar o que é “certo” usar agora.
Tudo vira consumo. Tudo vira urgência. Tudo vira insegurança.
E esse ciclo é viciante.
A cada nova tendência, você se sente defasada. A cada nova estética, seu armário parece ultrapassado. A cada item “obrigatório”, nasce a necessidade de comprar — e depois, descartar.
Essa lógica, alimentada pelas redes sociais e pelo fast fashion, nos empurra para um estado de insatisfação crônica com a própria imagem.
A moda deixou de ser linguagem e virou volume
A lógica algorítmica não só acelera tendências como distorce a noção de relevância. O que aparece no seu feed parece importante. O que viraliza parece consenso. Mas, no fundo, tudo se resume à visibilidade momentânea — e ao desejo de pertencimento turbinado pelas plataformas.
TikTok, Shein, Temu, Instagram, Pinterest, TikTok Shop: todos funcionam como grandes aceleradores de moda.
Como se isso fosse pouco, até o “anti-tendência” virou tendência. O underconsumption core, por exemplo, tem sido apontado como uma das tendências de 2025. Mas o que começou como uma proposta interessante de resistência — mostrar roupas reais, repetir peças, desacelerar, já foi apropriado pela lógica de views das redes sociais. Foi rotulado e transformado em mais uma estética a ser consumida (e abandonada).
Nem o cansaço escapa da moda.
E a consultoria de estilo com isso?
A consultoria de estilo — e o papel da consultora — precisa ser atualizada diante dessa realidade.
Se vestir virou um campo minado de expectativa, inadequação e comparação.
E quem trabalha com imagem pessoal precisa ter repertório e responsabilidade para lidar com isso.
Não é mais suficiente entregar paleta de cores e pastinha do Pinterest.
Não é mais sobre “acertar o look”.
É sobre ajudar o outro a se reconectar com seu próprio eixo estético, com sua identidade, com sua história.
É sobre construir estilo no meio do barulho.
Se você é profissional da área, atenção: esse cenário de sobrecarga estética vai impactar diretamente os seus atendimentos. Você vai encontrar clientes que não sabem mais do que gostam, que estão esteticamente esgotadas, que acham que o problema está no guarda-roupa — mas, no fundo, estão sofrendo com a expectativa de performar imagem 24/7.
Por isso, a consultoria nunca foi tão necessária.
Mas também nunca exigiu tanta escuta, tanto estudo, tanta sensibilidade — e tanto posicionamento.
A pergunta que fica
A essa altura, talvez a gente precise parar de perguntar “qual é a próxima tendência?” e começar a perguntar:
Como eu posso construir uma imagem que faça sentido pra mim — mesmo com tudo ao redor me dizendo o contrário?
Essa é a pergunta que eu deixo pra você hoje.
Seja você profissional da área ou não:
Você está vestindo o que quer?
Ou o que o algoritmo escolheu pra você?
Quero muito saber como você tem sentido esse momento.
Esse papo está só começando — e ainda vai render muito pano pra manga.