Credo, que blusa horrorosa!
Seja honesta: quantas vezes você deixou de usar uma roupa por medo de ouvir um comentário desses?
Me responde uma coisa com toda honestidade: você já deixou de usar alguma peça de roupa (sapato, acessório, maquiagem, corte de cabelo ou o que quer que seja) por medo do julgamento alheio?
Eu espero, de verdade, que sua resposta seja um enfático “NÃO” e que você tenha acabado de perder o interesse nesse texto.
Mas, infelizmente, na minha experiência de mais de 10 anos como personal stylist, tem grandes chances que a sua resposta seja “sim”.
Eu costumo dizer que, muitas das nossas questões de estilo-roupa, não nascem no guarda-roupa, mas nas nossas emoções, porque a roupa marca pertencimentos (e não-pertecimentos, o que, convenhamos pode ser bem dolorido), expõe inseguranças e fragilidades, faz parte da construção da nossa identidade. Não é pouca coisa, não.
A roupa fica na superfície do nosso corpo, mas não tem nada, absolutamente nada, de superficial.
Eu comecei escrever esse texto sobre medo do julgamento alheio, que é um tema recorrente no meu trabalho, porque, nas últimas semanas, eu fiz/estou fazendo o lançamento de um curso novo, o Com que Roupa?, que é, basicamente, um processo de autoconsultoria de estilo, para todo mundo que se veste de manhã e tem dilemas com isso. Um programa lindo, redondinho, para tornar meu trabalho mais acessível para mais gente.
Enfim, nesse lançamento, fiz uma estratégia de tráfego para chegar em pessoas que ainda não me conhecem.
Aí, você me pergunta: “Carol, o que isso tem a ver com medo do julgamento alheio?”
Calma, eu chego lá, prometo!
Chegar em novos públicos é ótimo e péssimo ao mesmo tempo. O meu público já me acompanha entende bem a minha proposta, meus valores, meu trabalho. Mas quando você fura a bolha, meu bem, você tem um gostinho do que há de pior nessa internet.
E eis que, em um dos anúncios, em que eu aparecia usando uma blusa preta de gola bem alta e estruturada, com meu cabelo shaggy bagunçado e meu batom vermelho, uma pessoa comentou: “Nossa, que blusa horrorosa, você devia colocar um blazer para passar mais autoridade.”
Outra comentou em cima: “Com essa cara, você devia estar dando consultoria num asilo de idosos.” (Não sei exatamente o que ela quis dizer com isso, mas tenho impressão que ela tentou me ofender e, de quebra, ofendeu os idosos também.)
Resolvi contar essa história aqui porque eu ri do comentário. Fazer 40 anos tem suas vantagens e uma delas é que eu já estou calejada para ouvir críticas sobre minha aparência e até sobre meu trabalho (sim, a essa altura do campeonato, críticas sobre meu trabalho são bem mais importantes do que críticas à minha aparência).
Críticas fundamentadas, construtivas, eu escuto (até certo ponto, pois taurina teimosa). Mas não me abalo com comentários soltos, gratuitos, vindos de alguém que não me conhece, viu um vídeo passando no feed e resolveu opinar.
Hoje eu tenho segurança em relação à minha carreira, ao meu estilo, à minha aparência e essa segurança funciona como uma rede de proteção contra esse tipo de ataque.
Mais do que isso, tendo clareza não só do meu estilo, mas do que eu defendo no meu trabalho, ouvir que eu tenho que “vestir um blazer pra passar autoridade” só reforça que minha imagem está perfeitamente coerente com o que eu acredito. Não, eu não preciso de um blazer.
Mas o curioso sobre esse comentário é que a primeira aula da semana de lançamento do curso era justamente sobre: os medos que travam a gente na hora de desenvolver o nosso estilo.
Nos meus atendimentos (eu diria que em 90% deles, infelizmente), percebo que muita gente deixa deixa de explorar cores, modelagens, texturas, de brincar com a própria imagem… tudo por medo do julgamento alheio.
E a verdade inconveniente é que as pessoas vão julgar mesmo!
Nós, mulheres principalmente, sempre seremos julgadas pela aparência. Não existe look “seguro” que nos deixe imunes ao julgamento. Por isso, eu até gostaria de dizer às minhas clientes: não se importem com esses comentários. Mas eu sei que não é simples. Como deixar de lado quando alguém fala na sua cara sobre sua aparência?
Na internet, então…. Tenho certeza de que a pessoa que escreveu sobre minha blusa e minha cara não teria coragem de falar diretamente comigo. Mas, atrás da tela, se sente forte o bastante para julgar, sem pensar que do outro lado também existe alguém vivendo dilemas, dramas e batalhas.
E aí, lascou?
Acho que não. Eu penso que, já que não existe uma roupa à prova de julgamento, não é a roupa que precisa ser mudada.
Aliás, o que precisa mudar mesmo é a sociedade. Uma sociedade que sempre tentou controlar o corpo das mulheres. Criticar a aparência é uma forma de controle. Te deixar desconfortável com quem você é, é uma estratégia para te diminuir, te deixar insegura, bem quietinha no seu canto sem ocupar espaço. E isso dissipa sua energia, porque te coloca o tempo todo na sensação de inadequação. Mas vamos deixar esse papo pra outro momento.
Vale dizer que, tenho essa opinião polêmica de que essa ideia de nunca se preocupar com o julgamento alheio é uma enorme bobagem, nós somos seres de bando e afeto, afinal. Mas acho que podemos filtrar com quem vamos nos importar. Não dá pra querer agradar todo mundo também.
Então, o que posso dizer é: já que o julgamento vai acontecer de qualquer forma, que pelo menos você se divirta no processo de se vestir. Se adeque àquilo que faz sentido pra você e pra quem te interessa. Entenda por que veste o que veste. Se aproprie das suas escolhas.
Quem sabe, em algum momento, você também consiga fazer como eu: usar justamente a blusa criticada para dar aula e ainda transformar a história em aprendizado.
Do outro lado, fica também um recado: não comente a aparência dos outros! Você provavelmente não gostaria que comentassem a sua.
E, cá entre nós, quem perde tempo julgando a aparência alheia está lidando com suas próprias inseguranças. Gente feliz não enche o saco. Gente em paz com a própria aparência está muito pouco preocupada com a dos outros.
Por fim, quero dividir um último comentário que recebi nesse mesmo vídeo: “Que absurdo, você vai dar um curso ensinando as pessoas a se vestirem com o que elas gostam?”
Pois é.
Parece inacreditável para alguns, mas nem todo mundo sabe o que gosta. Porque gosto, a gente só desenvolve com tentativa e erro. E o medo de errar é o maior inimigo da experimentação.
Vocês ficariam surpresas com a quantidade de clientes de 30, 40 anos que ainda não sabem me dizer o que gostam ou não, que mal conseguem identificar o que é confortável para o próprio corpo.
Mas, felizmente, é por isso que eu estou aqui: para ajudar nesse processo. =)






E eu achei a blusa linda!!!