Devendra Banhart e o uniforme masculino
Quarta, eu fui no show do Devendra Banhart (esse lindo aí da foto, caso você não esteja familiarizada) e assim que cheguei no lugar, uma coisa me chamou a atenção: todos, eu disse todos, os homens estavam vestidos exatamente iguais.
Todos clones do Devendra, diga-se de passagem.
Se vocês me pedissem para resumir o estilo das mulheres, não seria capaz. Tinha de tudo: do look pijama à montação máxima. Salto, tênis, sandália, bota. Cabelo grisalho, tingido de verde, naturalmente loiro. Saia, calça, vestido, macacão, shorts. Enfim, vocês entenderam.
Quando eu faço esse paralelo é muito, muito fácil cair na dicotomia:
A relação mulher e moda é complicada, logo, a relação homem e moda é o ideal.
Afinal, fomos socialmente condicionadas a colocar o homem como ideal. Para tudo. Com a moda não seria diferente.
Mas, além de não concordar com esse ideal, quando o assunto é moda também acho isso é uma falsa dicotomia. É um pensamento simplista. A realidade é bem mais complexa. Tão complexa que já adianto que nem vou dar conta dela aqui.
O que quero comentar é que, se de um lado, nós, mulheres, sempre seremos julgadas pelas nossas escolhas de roupas, é porque o nosso espaço social está em constante negociação.
O homen (hetero, cis, branco) tem um espaço garantido e, logo, uma vestimenta garantida para ocupar esse espaço.
Acontece que essa vestimenta é sempre um uniforme.
Qualquer coisa que desvie da norma gera um desconforto enooorme. E norma aqui é a palavra chave. Essa mesma norma não existe para as mulheres.
Existem normas que regem o corpo das mulheres (lembrando que pelos e cabelos fazem parte do corpo). Mas para as roupas, bem, a coisa fica mais difusa. Existem normas para e situações lugares específicos (como dentro de uma empresa, por exemplo), mas não uma norma geral.
Isso é bom ou ruim? Não vem ao caso. O mundo é um lugar complexo demais para ser dividido em bom ou ruim.
Mas meu ponto aqui é que existe um espaço de negociação na vestimenta feminina que não existe da vestimenta masculina (pelo menos não desse homem hetero, cis, branco).
Eu sei, o texto hoje foi uma grande divagação, mas acho que precisamos de mais divagações e menos respostas definitivas. Então, gostaria de ouvir como essa divagação bate aí do lado de vocês também!