não tenho tempo para gastar com roupa
Não quero perder tempo pensando em roupa.
Você já deve ter ouvido essa frase ou, até mesmo, dito essa frase.
Esse é um argumento bem comum pra justificar porque alguém não liga para o que veste.
Por trás dessa afirmação está a lógica: não perco tempo com coisas que não importam. Roupa, nesse contexto, simboliza isso.
Eu poderia até argumentar que roupa importa, sim. Mas hoje não vou por esse caminho.
O que quer dizer importa nesse contexto?
Bem, a lógica capitalista conseguiu enfiar na nossa cabeça que todo tempo que não é gasto ganhando dinheiro é um tempo mal aproveitado.
Até o tempo gasto cuidando da saúde é, em última instância, um tempo investido para que você tenha mais energia e mais tempo de vida para trabalhar.
Outro dia, vi um meme em que a pessoa dizia que ela gastava muito tempo comendo, dormindo e tomando banho e que isso deveria ser considerado trabalho. E eu fiquei assim:
Comer, dormir e tomar banho está entre as atividades rotineiras mais prazerosas que existem, na minha opinião. Não quero economizar tempo nisso. Quero é ter mais tempo para gastar com isso.
Não concordo que essas atividades deveriam fazer parte da categoria trabalho e, sim da categoria prazer. (Não que a gente não possa ter prazer no trabalho, mas vocês entenderam meu ponto, né?)
Mas como só o tempo do trabalho importa, precisamos transformar o lazer em trabalho, para, assim justificar esse tempo gasto.
Nada como ter tempo para bordar por bordar.
Pintar por pintar.
Ler por ler.
Se arrumar por se arrumar.
Ficar de bobeira olhando o filho brincar.
Sentar num café e ver a vida passar.
Sem nenhum objetivo final.
Fazer por fazer.
Viver.
Então, voltando à roupa, pode ser que você realmente não goste de pensar sobre isso e tudo bem. Mas pode ser que você só tenha preconceito porque te ensinaram que roupa não importa e gastar tempo com coisas que não importam é errado. É desperdício.
Eu adoro quando posso me arrumar beeem devagar, ouvindo música, testando looks. É um tempo sem pressa comigo mesma, brincando e exercitando a criatividade. São nesses momentos que brincar de combinar peças é mais importante do que o resultado final, a mensagem que vou passar, a adequação ao lugar que vou.
Talvez você nunca tenha vivido o arrumar-se dessa maneira. Talvez você realmente não curta fazer isso. Mas talvez você nunca tenha nem se permitido.
Se você realmente não gosta de pensar em roupa, eu respeito. Desde que a justificativa seja melhor do que “não gastar tempo”.
Que as deusas nos livrem dessa vida utilitarista a que o capitalismo nos condenou!