o esporte está na moda
Campanha da Louis Vuitton com Lionel Messi com Cristiano Ronaldo.
Quem é a pessoa mais seguida no Instagram?
Cristiano Ronaldo.
A segunda mais seguida?
Lionel Messi.
Juntos, eles têm um bilhão de seguidores e criam um vínculo com seu público que realmente não pode ser encontrado em outro lugar. Portanto, não é surpresa nenhuma que a moda, cada vez mais entrelaçada com a cultura pop, tenha notado isso.
No Met Gala deste ano, Maria Sharapova (tenista), Dwyane Wade (jogador de basquete), Ben Simmons (jogador de basquete) e Angel Reese (jogadora de basquete) desfilaram pelo tapete vermelho ao lado de Zendaya e Jennifer Lopez. Este mês, Sha’Carri Richardson (velocista) está na capa digital da Vogue, e o Vogue World, realizado em Paris, contou com Serena e Venus Williams (dispensam apresentações, certo?), Joe Burrow (jogador de futebol americano) e Victor Wembanyama (jogar de basquete) desfilando na passarela. Simone Biles apareceu duas vezes na capa da Vogue, e Serena Williams já apareceu três vezes.
As primeiras filas dos desfiles da Louis Vuitton e Prada estão repletas de atletas. A mais recente campanha publicitária da Louis Vuitton teve Roger Federer e Rafael Nadal como estrelas; os outdoors da Gucci agora apresentam Jannik Sinner (tenista). A LVMH, como parte do seu patrocínio aos Jogos de Paris, assinou com cinco atletas olímpicos para representar suas marcas, incluindo o nadador Léon Marchand e o jogador de rúgbi Antoine Dupont. A Dior foi ainda mais longe, com um grupo de 18 atletas como embaixadores.
A relação entre moda e esportes não é nova, mas costumava ser mais restrita. Estamos acostumados a associar atletas a marcas esportivas que, por sua vez, fazem cada vez mais parte do nosso dia a dia, não apenas restritas às práticas esportivas.
A Adidas, por exemplo, tem a Originals, uma submarca voltada para peças casuais, e a Y-3, que existe desde 2003, desenhada pelo estilista japonês Yohji Yamamoto. Sem falar da collab Adidas e Gucci? 🖤
Agora, as marcas, especialmente as de luxo, estão vendo o valor dos atletas para além do universo dos esportes.
Vivemos na era da hiperpersonalização. Meu feed de conteúdo é completamente diferente do seu, e até do do meu marido, com quem compartilho muitos interesses e pontos em comum.
Isso mostra que, como indivíduos e como sociedade, temos cada vez menos grandes pontos de contato cultural. O esporte ainda é um lugar onde nos encontramos, independentemente de idade, raça, condição socioeconômica, religião ou linha política. Basta ver como estamos acompanhando as Olimpíadas de perto e torcendo pelos mesmos atletas, alguns dos quais nem conhecíamos antes. Portanto, o esporte é uma força unificadora importante, e as marcas estão percebendo essa enorme oportunidade.
Aqui estão duas coisas que particularmente me interessam nessa aproximação crescente entre moda e esporte:
A Casualização da Moda
Quem é minha aluna sabe que venho falando sobre como nossas roupas estão se tornando cada vez mais casuais, em diversos contextos, e que isso é um caminho sem volta. A aproximação das marcas de luxo com o esporte é mais um sinal que confirma esse movimento.A Diversidade de Belezas
À primeira vista, podemos pensar que o esporte promove corpos esbeltos, mas não é bem assim. Atletas têm belezas muito menos padronizadas do que atores, cantores e celebridades das redes sociais. A preocupação com o corpo é mais pela performance do que pela estética, e cada esporte tem seu próprio “padrão”. Ginastas são baixas, jogadores de basquete são gigantes, e por aí vai.
Ver atletas no panteão da beleza parece positivo à primeira vista. Resta saber se essa relação com a moda fará com que os atletas se sintam pressionados a se encaixar em padrões de beleza, senão pelo corpo, pelo rosto. Veremos.
Por fim, eu não ia falar sobre o uniforme usado pelo Brasil na cerimônia de abertura das Olimpíadas, pois já se falou muito sobre isso e eu mesma já comentei em meus stories, mas não posso deixar de fazer essa relação.
Se vivemos em uma sociedade capitalista que prioriza o capital acima de tudo e estamos vendo que a relação entre moda e esportes é por demais lucrativa, por que, POR QUE, entregamos um uniforme horrososo para a nossa delegação vestir na abertura das Olimpíadas?
(Não vou discorrer sobre o horroroso, se você estava acordada nas últimas semanas, sabe que o uniforme só recebeu críticas, por todos os lados, e com razão.)
A falta de cuidado com o uniforme da delegação reflete a falta de investimento do país em esporte, moda e cultura de maneira geral. Também deixa claro como os interesses de grandes empresários se sobrepõem a todos os outros. Afinal, escolher a Riachuelo para desenvolver os uniformes, em vez de optar por marcas autorais incríveis no Brasil, não é por acaso.
A estética evangélica também faz parte desse projeto. Não é apenas falta de gosto ou criatividade. A religião influencia projetos de lei e até o uniforme da delegação olímpica
(E preciso ressaltar que minha crítica não é à religião em si, mas à sua interferência no Estado.)
Dentre tanto Brasis a serem representados num momento de visibilidade internacional, esse é o Brasil escolhido. Não é acaso, é projeto. E esse é mais um exemplo de como uma estética manifesta uma ética de maneira clara.
No fim das contas, essa mistura entre a moda e os esportes reflete uma mudança profunda na forma como percebemos a estética e o status cultural. A presença de atletas em campanhas de luxo e desfiles de alta costura não é apenas um reflexo das tendências atuais, mas também um sinal de como a casualização está moldando novos padrões de beleza e estilo.
À medida que vamos incorporando essa transformação cultural (que, na realidade, está em curso há algumas décadas), somos convidados a questionar e redefinir nossas próprias noções de elegância e autenticidade.
Uma coisa é certa: a união entre esporte e moda é mais do que uma tendência passageira; é uma transformação cultural que está aqui para ficar.