O futuro das compras pode estar no armário de outra pessoa
A tendência mais quente de Nova York não está em nenhuma loja conceito. Está no armário de alguém. Literalmente.
Recentemente, li uma matéria no Business of Fashion que falava que a tendência mais quente de Nova York não está em nenhuma loja conceito. Está no armário de alguém. Literalmente.
As closet sales (vendas organizadas por celebridades, influencers e pessoas comuns para se desfazer de suas próprias roupas) vêm numa crescente desde 2023. Os eventos organizados por Chloë Sevigny e Jenna Lyons, por exemplo, formaram filas quilométricas para comprar peças usadas. Até Courtney Love andou vendendo peças do seu acervo!
Mas não são só super celebridades que aderiram aos closet sales: produtoras de conteúdo, stylists e até vizinhas do bairro têm realizado suas próprias versões. Até entre as Stylebreakers, tem rolado esse papo de organizarmos a nossa closet sale coletiva.
É imporante frisar que closet sale é diferente de brechó ou bazar beneficente. Porque, o grande apelo desse tipo de formato é que se trata de um tipo muito específico de curadoria afetiva e personalizada que dribla o excesso, o algoritmo e a mesmice.
O cansaço do algoritmo, a busca pelo afeto
A promessa do e-commerce era conveniência. Mas hoje, entrar em grande e-commerce de moda é como tentar encontrar uma agulha no palheiro. Tem de tudo, o tempo todo, e quase nada que realmente se destaque. Até as marcas de luxo, que já foram um grande expoente de criatividade, estão passando por essa crise da mesmice.
Eu mesma tenho ouvido exatamente isso das minhas clientes: que a experiência de compras (on e offline) é repetitiva e exaustiva. Não é à toa que as pessoas estão buscando o oposto disso: descobertas inesperadas, boas histórias, peças únicas.

É aí que entram os closet sales.
Eles entregam experiência, contexto, curadoria e, muitas vezes, um bom desconto, claro. No evento da Vogue com o eBay, por exemplo, um vestido Balenciaga saía por 500 dólares. Parece muito? Para quem conhece o mercado de luxo, é pechincha.
Mas mais do que preço, é sobre conexão. Eu, que fui muito inspirada pelo estilo da Courtney Love na minha adolescência, desejei muito adquirir uma das peças dela. Porque, afinal, comprar um look que já vestiu alguém cujo estilo você admira muito, cria uma outra relação com o objeto. De desejo e delírio fashionista, sim. Mas também de pertencimento e de história.
Claro que as plataformas de revenda estão de olho nesse formato. Vestiaire Collective, The RealReal, Pickle, Detoure, todas já entenderam que colocar um rosto, uma história e uma identidade por trás das peças é muito mais eficaz do que listar produto com fundo branco. O Enjoei, no Brasil, já entendeu isso faz tempo! Quem nunca entrou na lojinha do Enjoei de algum famoso na esperança de garimpar um bom item com precinho e história?
Closet sale é mais do que um evento.
Como bem colocou o BoF, essas vendas têm funcionado como um antídoto contra a pasteurização das escolhas. Numa era em que todo mundo vê e compra as mesmas coisas, o desejo por diferenciação e originalidade nunca foi tão alto.
As closet sales também trazem à tona outra discussão importante: o valor simbólico de uma roupa. A história por trás de uma peça pode agregar mais valor do que uma etiqueta de grife. Um vestido que pertenceu a uma estilista, uma jaqueta que foi usada num momento marcante, uma bolsa que viralizou, tudo isso adiciona camadas de sentido.
E daí eu penso que esse movimento tem tudo a ver com a consultoria de estilo, afinal, a consultora funciona como uma curadora pessoal. Alguém que filtra, organiza e propõe. Que ajuda a cliente a fugir do ruído, do excesso e da dúvida. Que aponta caminhos e reconecta o vestir com o desejo.
Assim, acho que consultoria de estilo entra nesse cenário como ponte entre desejo e significado. Ao construir com a cliente uma visão mais consciente e personalizada do vestir, ela prepara o terreno para um consumo mais conectado com quem a pessoa é.
Numa era de excesso de opções e escassez de tempo, ter alguém que ajuda a fazer boas escolhas é, paradoxalmente, um ato de autonomia.
No fundo, closet sales, consultoria e curadoria não são sobre comprar menos. São sobre fazer escolhas com mais intenção.
E você? Compraria peças que já foram de alguém que você admira?




eu adoro roupa com história, quando isso pode virar um tópico de assunto, sabe? pra além do “ah, é da zara.” que venha, pelo menos, acompanhado de um “é da zara, comprei tem uns 15 anos.” essa mistura de peças com história com peças atuais é o puro high low pra mim!