Para que pensar estilo em 2025?
Essa deveria ser a pergunta central de quem trabalha com moda hoje. Mas, sinceramente? Acho que a gente se faz pouco essa pergunta. E não falo “a gente” como quem observa de longe, é olhando o que muitas consultoras de estilo estão produzindo, falando e vendendo.
Porque, se não entendemos por que pensar estilo agora, dificilmente vamos entregar um trabalho que resolva de fato os problemas das nossas clientes.
E em 2025, pensar estilo não é sobre regras.
Não é sobre certo ou errado.
Não é sobre passar a medida exata do colar, da barra da saia ou do salto do sapato.
Aliás, é justamente porque essas regras não existem mais que alguém procura uma consultoria de estilo hoje. Já parou pra pensar nisso?

Hoje, os estilos são múltiplos, complexos, sobrepostos. Fora do universo da consultoria de estilo, não existe uma norma universal dizendo qual o comprimento de saia “apropriado”, qual combinação de cores “funciona” ou qual o brinco “ideal” para o seu rosto.

E, vamos ser claras, o fato de não existirem regras não significa que você não será lida e julgada pela sua aparência o tempo todo. Pelo contrário: a roupa continua sendo mediadora das nossas relações sociais. A diferença é que agora a leitura é mais difusa, cheia de nuances e interpretações possíveis.
E isso torna o ato de se vestir mais difícil.
Quando as regras são claras, é só seguir a cartilha. Você pode até não estar feliz, mas sabe o que fazer. Quando as regras caem, quando você pode transitar de tantas formas pelo mundo, é aí que surgem as dúvidas.
No fundo, a consultoria de estilo hoje é sobre mediar essa relação: entre um sujeito (que tem corpo, história, contexto) e o mundo.
Estamos falando de pertencimento. De posicionamento.
De expressão e individualidade.
De como a imagem pessoal dialoga com a imagem profissional.
E, ao mesmo tempo, estamos falando de questões super práticas: comprar melhor, se vestir mais rápido pela manhã, sentir segurança no que está usando.
Essas coisas coexistem. Uma não invalida a outra.
Agora, peço sua licença, pra trazer um breve panorama histórico sobre moda e estilo.
Se a gente volta para o início do século XX, encontra um consumo de moda muito diferente do que temos hoje. As roupas eram feitas para durar. A maior parte das pessoas tinha um guarda-roupa pequeno, construído ao longo do tempo, e as peças eram ajustadas, reformadas e herdadas. Não existia essa avalanche de novidades entrando no armário a cada estação.
A virada começa com a industrialização e, principalmente, com a consolidação da moda pronta para vestir. No pós-Segunda Guerra, temos um mercado fazendo de tudo pra retomar o fôlego, publicidade em massa e a ideia de que consumir não era só possível, mas desejável. A moda se torna parte do projeto moderno de vida: mudar o guarda-roupa regularmente era sinal de status, atualização e pertencimento.
Nos anos 1960, a juventude explode como força de consumo. É quando a Moda (essa com M maiúscula mesmo) começa a se fragmentar em nichos, estilos e tribos, deixando de ser apenas uma manifestação da elite para virar também um símbolo de rebeldia, experimentação e contestação.
Os anos 1980 consolidam o consumo como espetáculo. Marcas ganham poder de identidade: vestir tal logotipo é vestir um pertencimento específico. A moda é globalizada, mas ainda tem um ritmo relativamente “lento” comparado ao que viria depois. É nesse momento, que a consultoria de estilo como conhecemos hoje, é criada.
A grande ruptura vem nos anos 1990 e 2000 com a expansão do fast fashion. Cadeias de produção globais aceleram o ritmo das coleções, a internet encurta o ciclo de desejo e a moda se torna mais acessível — e descartável! — do que nunca.
E aí chegamos aos anos 2010 e 2020, com a sobrecarga que já conhecemos: microtendências, redes sociais transformando qualquer pessoa em vitrine ambulante, um ritmo tão acelerado que até o fast fashion parece lento. A estética muda em semanas. O que “todo mundo” está usando hoje pode virar cringe amanhã.
É nesse contexto que a consultoria de estilo contemporânea precisa atuar.
Entender esse histórico é entender que estilo não é uma fórmula pronta. É uma negociação constante entre quem somos, quem queremos ser e o mundo que nos lê.
Não dá mais para pensar no nosso trabalho como um serviço que entrega um manual para a cliente seguir por anos. As referências mudam, os códigos mudam, a forma como o corpo é olhado muda e, junto, mudam também as inseguranças, os desejos e as expectativas.
E se hoje vestir-se é mais complexo do que nunca, talvez essa seja exatamente a razão de o nosso trabalho ser também mais necessário.
Olhar para esse percurso deixa claro: o vestir sempre foi atravessado por contexto, tecnologia, economia e política. A cada mudança de época, mudam também as ferramentas que usamos para traduzir quem somos em forma de roupa.
Só que agora, em 2025, estamos diante de um cenário inédito: nunca tivemos tanta liberdade estética… e, ao mesmo tempo, tanta insegurança sobre o que vestir. Nunca tivemos acesso a tanta informação… e, ao mesmo tempo, tanta dificuldade em filtrar o que serve para nós.
É aqui que a consultoria de estilo precisa se reinventar.
Não como uma guardiã de regras do passado, mas como uma facilitadora de leitura de mundo.
Não para dizer “o que está certo ou errado”, mas para ajudar a construir repertório, critério e autonomia.
Porque pensar estilo hoje não é escolher entre preto ou bege, calça ou saia. É entender quais narrativas a sua roupa conta, e se essas narrativas estão alinhadas ao que você quer comunicar.
O desafio é que esse processo é vivo. Ele não se encerra em uma cartela de cores ou num quadro de inspirações. Ele se transforma conforme o mundo muda, conforme nós mudamos.
E talvez seja essa a pergunta que a gente devesse carregar todos os dias no trabalho:
Se a moda é movimento, como posso ajudar minhas clientes a se moverem com ela, sem perderem a si mesmas no caminho?
No fim, é sobre isso:
vestir-se é negociar o presente e projetar o futuro.
E a consultoria de estilo, quando bem-feita, é o espaço onde essa negociação acontece de forma consciente e intencional.
Nos próximos dias, eu vou abrir as inscrições para a Semana Vista Seu Estilo, meu curso que aprofunda tudo isso na prática. É para pessoas que querem se entender com próprio vestir, além das regras prontas.
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